— Vai-te, infeliz, volta; foge desta ilha maldita! — gritava ela a Ricardo que ainda não podia ouvi-la. — Vens buscar a morte; foge, foge para bem longe!
De repente, porém, mudava de acordo e, receando que apesar da distância o mancebo a tivesse ouvido, olhava assustada para o barco, que já lhe parecia ir de volta, e punha-se de nova a bradar:
— Não, não voltes; vem, meu Ricardo… eu te amo; vem. Sim — continuava cismando consigo —, é bem verdade que te amo… amo-te com loucura…! Entretanto também é verdade que jurei matar-te, e que tenho de enterrar nesse coração que é meu, que só por mim palpita, este punhal nefando…
Aqui Regina arrancou com mão convulsa o punhal que trazia ao seio e, encarando-o com olhos torvos e desvairados:
— Oh! Punhal execrando! — exclamou com frenética exaltação. — Punhal três vezes maldito…! Não, não, tu não te tingirás no sangue daquele a quem adoro…! Vai-te de mim, maldito…! Sepulta-te nos infernos!
E com um movimento arrebatado, arrojou às ondas o punhal que, como um golfinho de luzentes escamas, bateu sobre as águas e sumiu-se no seio do oceano.