se depois o ruído da mastigação das carnes, que se rasgavam dos ossos, que estalavam entre os dentes caninos daquelas feras humanas, que devoravam quentes e ainda palpitantes os membros da vítima. Quem não os tivesse visto, julgaria estar num antro de lobos ou panteras. Gaspar sentiu o cheiro das entranhas palpitantes e do sangue ainda quente de seu companheiro. Os cabelos se lhe eriçaram, bagas de suor frio rolaram-lhe pela testa, cerrou os olhos em uma vertigem, e teria caído em terra, se já não estivesse amarrado e estendido no chão.
Passados aqueles momentos de turvação, os olhos de Gaspar, já um pouco familiarizados com a espessa escuridão que reinava na furna, começaram a divisar mui confusamente os vultos branquicentos dos selvagens, que se moviam mais perto dele. Um destes se avizinhou, pôs-se de joelhos, debruçou-se sobre ele, tocou-o com as mãos, e esteve como que o contemplando por algum tempo. Gaspar estremeceu.
“É chegada a minha vez!” disse consigo; rezou o ato de contrição, e encomendou sua alma a Deus.
Imediatamente um grupo numeroso se acercou dele dando gritos de feroz alegria, Gaspar esperava a cada instante os golpes, que deviam matá-lo, e avançava a cabeça para nela recebê-los