Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/42

de espuma, que incessantemente se arrojavam e recuavam em perpétua escalada contra as titânicas e inabaláveis muralhas, indo lamber-lhe até o alto das ameias. Era avistada ora em um ponto, ora em outro do horizonte, algumas vezes mais próxima à costa, outras em remotíssimas distâncias, ora formosa e risonha descoberta a todos os raios do sol, ora negrejando em volta em carregados nevoeiros, como sombria e tétrica masmorra. Às vezes também desaparecia inteiramente destes mares para tornar a aparecer depois de alguns meses, e havia notícia de que se apresentava em frente de outras terras situadas a enorme distância daqui. Alguns pretendiam fazer crer que era um monstro marinho de espantosas dimensões, mas o que é certo, e o em que todos acreditavam e acreditam até hoje, é que aquela penedia é uma ilha, que anda solta a boiar sobre os mares, e que é nada menos que o palácio flutuante de uma sereia, feiticeira ou fada marinha, a qual, com o poder de seu condão e de seus conjuros diabólicos, a faz mover-se de um ponto a outro, e submergir-se ou surgir à tona da água conforme o seu capricho. Contavam mais, que essa sereia ou fada com a magia de seus cantares e artifícios satânicos costumava atrair para lá alguns pescadores dos mais jovens e formosos, e que lá os guardava para