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sempre encerrados em suas impenetráveis espeluncas. Alguns também, que tinham tido a rara fortuna de avizinhar-se da ilha sem lá ficarem para sempre detidos, referiam que pelas penedias que a cercam ressoavam harmonias e cantares suavíssimos, e asseguravam mesmo terem visto sobre a crista dos penedos uma donzela de estranha formosura dedilhando uma harpa de ouro engastada de pérolas, e entoando canções tão tristes e maviosas que faziam gemer de saudade os próprios rochedos. Sabia-se até o número e os nomes das desventuradas vítimas que tinham caído nas ciladas da maléfica e perigosa feiticeira dos mares.

Todos os barcos de pescaria ou cabotagem que cruzavam por estas costas evitavam com cuidado aproximar-se do rochedo maldito, e os barqueiros ao avistarem-no, por mais distantes que estivessem, o esconjuravam rezando o credo e benzendo-se três vezes.

Havia, entretanto, uma pessoa a quem a ilha encantada, longe de inspirar terror, excitava a mais viva curiosidade e o mais ardente desejo de vê-la de perto, de tocá-la com suas mãos, de pisá-la com suas plantas. Era Regina. Essa ilha, que para os outros era um fantasma sinistro, um covil de duendes e seres malfazejos, para ela se afigurava um regaço de mãe carinhosa, um berço