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coração cessava de bater, e que a alma também se lhe ia fugindo do corpo, e perdendo-se pelos limbos da eternidade. Então prorrompia em lastimosas exclamações, praguejava, e maldizia mil e uma vezes suas fatais fraquezas e condescendências. Mas a velinha reaparecia no horizonte, e o prazer que sentia a boa velha ao ver de volta e livre do perigo a sua querida sereia, fazia-lhe esquecer as mágoas e os sustos passados.

Assim Regina, como o passarinho novo, que ensaia as asas, que apenas lhe despontam, ia pouco a pouco estendendo suas correrias marítimas e, dando longas voltas a fim de disfarçar seu intento aos olhos da solícita madrinha, não deixava de avizinhar quanto lhe era possível da ilha maldita, que para ela era a ilha afortunada. Queria observar-lhe de mais perto a figura e os contornos para um dia poder a ela dirigir afoitamente a proa e nela desembarcar.

Não tiveram, porém, de durar por muito tempo essas tímidas e cautelosas tentativas da donzela para reconhecer e desembarcar na ilha, porque tanto suspirava. Passados poucos meses depois que Regina tivera o seu pequeno batel, Felisbina vergada pelo peso dos anos, moléstias e trabalhos, foi repousar dos cuidados da vida à sombra da cruz no cemitério da aldeia. Apesar de seu gênio indócil, trêfego e livre como as auras do céu, Regina