tinha coração sensível e grato, e chorou com lágrimas sinceras o passamento de sua benfeitora. A velha, vendo avizinhar-se a hora extrema, lhe tinha legado de viva voz sua cabana com todos os seus pertences.
Ali nessa singela choupana, tornada desde então mais simples e solitária ainda, continuou Regina a viver sua vida singular e misteriosa.
— Agora que me acho sozinha no mundo — pensou ela consigo —, pertenço toda ao mar; o mar foi o meu berço; ele será também o meu abrigo na vida, e minha sepultura na morte.
Algumas mulheres compassivas e amigas da defunta, vendo a pobre órfã tão só e desamparada no mundo, a convidaram para sua companhia; Regina, porém, recusou obstinadamente todos os oferecimentos que lhe foram feitos.
— Depois da boa mulher que a morte me roubou — dizia ela —, não devo nem quero prestar obediência a mais ninguém. Já sou grande e saberei governar-me a mim mesma e fazer-me respeitar. Não tive pai, nem mãe na terra; parece que o mar me gerou de seu seio; a ele, pois, confio de hoje em diante o meu destino; quero viver só com ele, e livre como ele.
Assim o disse e assim o executou.
Às vezes, nas tardes serenas, via-se resvalando pela superfície das vagas douradas pelos fulgores