Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/51

filha dela. E todos, portanto, ao avistarem a donzela, a despeito de seus encantos, sentiam o mesmo terror que lhes inspirava a sinistra penedia.

Regina, entretanto, bem poucas vezes se apresentava na aldeia, e quase nenhumas relações entretinha com os habitantes daquelas costas. Sabia que formavam dela o mais desfavorável conceito, que a temiam e execravam como fada malfazeja que agourentava tudo em que punha os olhos.

Mas não lhe doía isso muito a alma, pois se bem que não nutrisse ainda sentimento algum de ódio ou malevolência, como sereia que era, e filha do mar, tinha certo desdém e repugnância instintiva por tudo quanto era da terra.

Quando, porém, acontecia andar pela aldeia e entreter-se algumas horas com as famílias dos pescadores, era como uma visão deslumbrante que em todos excitava o mais vivo interesse, curiosidade e assombro. Se sua beleza enlevava os olhos de todos, se suas cantigas arrebatavam, sua amabilidade lhana e desafetada, os encantos de seu espírito, a graça de sua conversação ganhavam todos os corações.

— Oh! Não; uma menina assim não pode ser uma fada cruel e malfazeja; é mais fácil ser um anjo do céu — diziam as mulheres, enquanto a tinham diante dos olhos. Quando, porém, se ausentava,