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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

relusindo no sol como uma cascata de azeviche. Depois o negro brilho, as claras rendas, desappareceram sob os loureiros da rua que conduzia ao Mirante.

Mas Gonçalo não se arredou d’entre as janellas, limando vagamente as unhas, espreitando pelas cortinas, n’uma desconfiança, quasi n’um terror que o Cavalleiro de novo surgisse na pileca — agora que Gracinha se embrenhára para os lados d’esse commodo Mirante, construcção do seculo XVIII, imitando um Templosinho do Amor, que rematava o longo terraço do jardim e dominava a rua das Tecedeiras. Mas a calçada permanecia silenciosa, sob as derramadas sombras de arvoredo do Palacete e do Convento. E por fim decidiu descer, envergonhado da espionagem — certo que a irmã não se mostraria ao Cavalleiro na varandinha do Mirante, assim com os cabellos em desalinho, por cima d’um penteador.

E cerrava a porta, quando se encontrou deante dos braços do Padre Sueiro, que o prenderam pela cinta com affago e respeito.

— Oh! meu ingratissimo Padre Sueiro! exclamava Gonçalo, batendo ternamente nas gordas costas do Capellão. Então que feia acção foi esta? Mais de um mez sem apparecer na Torre! Agora para o Sr. Padre Sueiro já não ha Gonçalinho, ha só Gracinha...

Enternecido, quasi com uma lagrima a bailar