A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
157

Na rua das Brocas por onde desciam, no silencio, a solidão das lojas cerradas, a colera do Guedes resoou, mais solta:

— Infamemente, Snr. Gonçalo Mendes Ramires, infamissimamente! E para Almodovar, para os confins do Alemtejo!... Para uma terra sem recursos, sem distracções, sem familias!...

Parára, com os doces contra o coração, os olhinhos esbugalhados para o Fidalgo, coriscando. O Noronha! Um empregado trabalhador, honradissimo! E sem Politica, absolutamente sem Politica. Nem dos Historicos, nem dos Regeneradores. Só da familia, das tres irmãs que sustentava, tres flôres... E homem estimadissimo na cidade, cheio de prendas! Um talento immenso para a musica!... Ah! o Snr. Gonçalo Ramires não sabia? Pois compunha ao piano cousas lindas! Depois precioso para reuniões, para annos. Era elle quem organisava sempre em Oliveira as representações de curiosos...

— Porque, como ensaiador, creia V. Ex. aque não ha outro, mesmo na capital... Não ha outro! E, zás, de repente, para Almodovar, para o Inferno, com as irmãs, com os tarecos! Só o piano!... Veja V. Ex. asó o transporte do piano!

Gonçalo resplandecia:

— É um bello escandalo. Ora que felicidade esta de o ter encontrado, meu caro Guedes!... E não se sabe o motivo?