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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

De novo caminhavam demoradamente pelo passeio estreito. E o tabellião encolhia os hombros, com amargura. O motivo! Publicamente, como sempre n’estas prepotencias, o motivo era a conveniencia do Serviço...

— Mas todos os amigos do Noronha, por toda a cidade, conhecem o verdadeiro motivo... O intimo, o secreto, o medonho!

— Então?

Guedes relanceou a rua, com prudencia. Uma velha atravessava, coxeando, segurando uma bilha. E o tabellião segredou cavamente, junto á face deslumbrada do fidalgo. — É que o Snr. André Cavalleiro, esse infame, se encantára com a mais velha das irmãs Noronhas, a D. Adelina, formosissima rapariga, alta e morena, uma estatua!... E repellido (porque a menina, cheia de juizo, uma perola, percebera a intenção villissima) em quem se vinga, por despeito, o Snr. Governador Civil? No pagador! Para Almodovar com as meninas, com os tarecos!... Era o pagador quem pagava!

— É uma bella maroteira! murmurou Gonçalo, banhado de gosto e riso.

— E note V. Ex. a! exclamava o Guedes, com a mão gorda a tremer por cima do chapeu. Note V. Ex. aque o pobre Noronha, na sua innocencia, tão bom homem, gostando sempre d’agradar aos seus chefes,