A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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femieira, que opprime, desterra um funccionario admiravel — por que a irmã do pobre senhor se recusou á baba dos seus beijos. E Gracinha?... Como resistiria Gracinha áquelle desengano — o seu antigo André abrazado pela menina Noronha e por ella repellido com nôjo e com mófa? Oh! o escandalo era soberbo! Só restava que estalasse, bem ruidoso, sobre os telhados d’Oliveira e sobre o peito de Gracinha como trovão benefico que limpa ares corrompidos. E d’esse trovão, rolando por todo o Norte, se encarregava elle com delicia. Libertava a cidade d’um Governador detestavel, Gracinha d’um sonho errado. E assim, com uma certeira pennada, trabalhava pro patria et pro domo!

Nos Cunhaes correu ao quarto do Barrôlo, que se vestia trauteando o Fado dos Ramires, e gritou atravez da porta com uma decisão flammejante:

— Não te posso acompanhar á Estevinha. Tenho que escrever urgentemente. E não subas, não me perturbes. Necessito socego!

Nem attendeu aos protestos desolados com que o Barrôlo accudira ao corredor, em ceroulas. Galgou a escada. No seu quarto, depois de despir rapidamente o casaco, de excitar a testa com um borrifo d’agua de Colonia, abancou á mesa — onde Gracinha collocava sempre entre flores, para elle trabalhar, o monumental tinteiro de prata que pertencera ao tio Melchior.