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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

Bufava, arfava, esfalfado d’aquelle fogoso desabafo. Dobraram calados a esquina das Brocas para a bella rua, novamente calçada, da Princeza D. Amelia. E logo na segunda porta, parando, tirando da algibeira o trinco, o Guedes, que ainda resfolgava, offereceu a S. Ex. apara descançar.

— Não, não, obrigado, meu caro amigo. Tive immenso, immenso prazer, em o encontrar... Essa historia do Noronha é tremenda!... Mas nada me espanta do Snr. Governador Civil. Só me espanta que o não tenham corrido d’Oliveira, como elle merece, com pancada e assuada... Emfim, nem toda a gente boa jaz no cemiterio de S. Miguel... Até ámanhã, meu Guedes. E obrigado!

Da rua da Princeza D. Amelia até o Largo de El-Rei, Gonçalo correu com o deslumbramento de quem descobrisse um thesouro e o levasse debaixo da capa! E ahi levava com effeito o «escandalo, o rico escandalo», que tanto farejára, por que tanto almejára, para desmantelar o Snr. Governador Civil na sua fiel cidade de Oliveira que lhe levantava arcos de buxo! E, por uma mercê de Deus, o «rico escandalo» demoliria tambem o homem no coração de Gracinha, onde, apezar do antigo ultraje, elle permanecia como um bicho n’um fructo, esfuracando e estragando... E não duvidava da efficacia do escandalo! Toda a cidade se revoltaria contra a Authoridade