A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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desenfiando das cordas o marmelleiro que cravou no chão pela choupa:

— Temos que eu fallei sempre claro com o Fidalgo, e não era para que depois me faltasse á palavra!

Gonçalo Ramires levantou a cabeça com uma dignidade lenta e custosa — como se levantasse uma massa de ferro:

— Que está vossê a dizer, Casco? Faltar á palavra! em que lhe faltei eu á palavra?... Por causa do arrendamento da Torre? Essa é nova! Então houve por acaso escriptura assignada entre nós? Você não voltou, não appareceu...

O Casco emmudecera, assombrado. Depois, com uma colera em que lhe tremiam os beiços brancos, lhe tremiam as seccas mãos cabelludas, fincadas ao cabo do varapau:

— Se houvesse papel assignado o Fidalgo não podia recuar!... Mas era como se houvesse, para gente de bem!... Até V. S. adisse, quando eu acceitei: «viva! está tratado!...» O fidalgo deu a sua palavra!

Gonçalo, enfiado, apparentou a paciencia d’um senhor benevolo:

— Escute, José Casco. Aqui não é logar, na estrada. Se quer conversar commigo appareça na Torre. Eu lá estou sempre, como vossê sabe, de manhã... Vá ámanhã, não me encommóda.