A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
207

rijamente, o entaipasse mesmo por algumas horas na cadeia...

O Administrador, que escutára palpando a garganta, atalhou logo, com a mão espalmada:

— Governo Civil, caro amigo, Governo Civil! Esses casos de prisão preventiva pertencem ao Governo Civil. Reprehensão não basta, com tal féra!... Só cadeia, um dia de cadeia, a meia ração... O Governo Civil que me mande um officio ou telegramma. Você realmente corre perigo. Nem um instante a perder!... Amanhã tipoia e Governo Civil. Mesmo por amor da Ordem Publica!

E Gonçalo, compenetrado, com os hombros vergados, cedeu ante esta soberana razão da Ordem Publica:

— Bem, João Gouveia, bem!... Com effeito é uma questão de Ordem Publica. Vou ámanhã ao Governo Civil.

— Perfeitamente, concluiu o Administrador puxando o cordão da campainha. Dê recados meus ao Cavalleiro. E só lhe digo que havemos de arranjar uma votação tremenda, e foguetorio, e vivas, e ceia magna no Gago... Você não quer tomar chá, não? Então, boas noites... E olhe! D’aqui a dous annos, quando você fôr ministro, Gonçalo Mendes Ramires, recorde esta nossa conversa, á noite, na Calçadinha de Villa-Clara!