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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

Oh, realmente, por Gracinha, elle abriria ao Cavalleiro todas as portas dos Cunhaes — mesmo a porta do quarto d’ella, e bem larga, com uma solidão bem preparada!... E depois não se cuidava de uma donzella, nem d’uma viuva. Na casa do Largo d’El-Rei governava, mercê de Deus, marido brioso, marido rijo. A esse, só a esse, competia escolher as intimidades do seu lar — e n’elle manter quietação e recato. Não! esse receio de uma imaginavel fragilidade de Gracinha, da sua honrada, altiva Gracinha — esse receio, perverso e louco, certamente o devia varrer, com o coração desafogado e sorrindo. — E, na clara solidão da estrada, Gonçalo Mendes Ramires atirou um gesto decidido e terminante que varria.

Restava porém a sua propria humilhação. Desde annos, ruidosamente, conversando e escrevendo, em Coimbra, em Villa-Clara, em Oliveira, na Gazeta do Porto — elle demolira o Cavalleiro! E subiria agora, de espinhaço vergado, as escadarias do Governo Civil, murmurando o seu — peccavi, mea culpa, mea maxima culpa?... Que escandalo na cidade! — «O Fidalgo da Torre lá precisou e lá veio...» Era o transbordante triumpho do Cavalleiro. O unico homem que no Districto se conservava erguido, pelejando, trovejando as verdades — desarmava, emmudecia, e encolhidamente se enfileirava no sequito louvaminheiro de Sua Exc. a! Bem duro!... Mas,