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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

Lisboa por causa da hypotheca da sua quinta de Praga, junto a Lamego, que certo fôro annual de dez réis e meia gallinha, devido ao Abbade de Praga, andava empecendo terrivelmente nos Conselhos do Banco Hypothecario; — e tambem para conhecer mais estreitamente o seu Chefe, o Braz Victorino, mostrar lealdade e submissão partidaria, colher algum fino conselho de conducta Politica. Ora uma noite, voltando de jantar em casa da velha Marqueza de Louredo, a «tia Louredo», que morava a Santa Clara, esbarrou no Rocio com José Lucio Castanheiro; então empregado no Ministerio da Fazenda, na repartição dos Proprios Nacionaes. Mais defecado, mais macilento, com uns oculos mais largos e mais tenebrosos, o Castanheiro ardia todo, como em Coimbra, na chamma da sua Idéa — «a resurreição do sentimento portuguez!» E agora, alargando a proporções condignas da Capital o plano da Patria, labutava devoradoramente na creação d’uma Revista quinzenal de setenta paginas, com capa azul, os Annaes de Litteratura e de Historia. Era uma noite de Maio, macia e quente. E, passeando ambos em torno das fontes seccas do Rocio, Castanheiro, que sobraçava um rolo de papel e um gordo folio encadernado em bezerro, depois de recordar as cavaqueiras geniaes da rua da Misericordia, de maldizer a falta de intellectualidade de Villa Real de Santo Antonio — voltou