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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

botão. Dentro o leito de pau preto, vasto leito de ceremonia, atravancava a parede forrada d’um velho papel avelludado de ramagens verdes. Ao lado dos dous postes torneados, á cabeceira, pendiam dous paineis, retratos de antigos Ramires, um Bispo obeso folheando um folio, um formoso Cavalleiro de Malta, de barba ruiva, appoiado á espada, com um laçarote de rendas sobre a couraça polida. E nos altos colchões o Manoelzinho resonava, sem tosse, quieto, abafado pela grossura dos cobertores, humedecido por um suor fresco e sereno.

Gonçalo, caminhando sempre de leve, repuxou cuidadosamente a dobra do lençol. Desconfiado das janellas decrepitas, experimentou que não entrasse traiçoeiro ar pelas gretas. Mandou pelo Bento buscar uma lamparina, que arranjou sobre o lavatorio, com a luz esbatida por traz d’uma vazilha. Ainda attentamente relanceou os olhos lentos pelo quarto, para se assegurar do socego, do silencio, da penumbra, do conforto. E sahiu, sempre na ponta dos pés, sorrindo, deixando o filho do Casco velado pelos dous nobres Ramires — o Bispo com o seu Tratado, o Cavalleiro de Malta com a sua pura espada.