A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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O Fidalgo torcia o bigode, consternado, pensando nos risinhos perversos das Louzadas, de toda a cidade, perante uma entrada tão apparatosamente fraternal. E, quando o Cavalleiro recommendou ao Matheus que mandasse apromptar o Rossilhoe a egoa do Fidalgo para as quatro horas e meia, Gonçalo exagerou o seu receio do calor, da poeira. Antes partissem ás sete, pela fresca! (Assim esperava penetrar em Oliveira desapercebidamente, esbatido no crepusculo). Mas André protestou:

— Não, é uma secca, chegamos á noite. Precisamos entrar com solemnidade, á hora da musica no Terreiro... Ás cinco, hein?

E Gonçalo, vergando os hombros sob a Fatalidade:

— Pois sim, ás cinco.

Na sala de jantar, esteirada, com denegridos paineis de flôres e fructas sobre um papel vermelho imitando damasco, André occupou a veneranda cadeira de braços do avô Martinho. O brilho das pratas, a frescura das rosas n’uma floreira de Saxe, revelavam os desvelos da prima Jesuina — que, com dôr d’entranhas n’essa manhã, não se vestira, almoçava no quarto... Gonçalo louvou aquella elegante ordem, tão rara n’uma casa de solteirão, lamentando a falta de uma prima Jesuina na Torre... E André sorria deliciadamente, desdobrando o guardanapo,