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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

— Aristocrata... Está claro que sou aristocrata. Sentiria com effeito certo desgosto em ter nascido, como uma herva, d’outras hervas vagas. Gósto de saber que nasci de meu pae Vicente, que nasceu de seu pae Damião, que nasceu de seu pae Ignacio, e assim sempre até não sei que Rei Suevo...

— Recesvinto! informou respeitosamente Padre Sueiro.

— Pois até esse Recesvinto. O peor é que o sangue de todos esses paes não differe realmente do sangue dos paes do Joaquim da Porta. E que depois do Recesvinto, para traz, até Adão, não tenho mais paes!

E, emquanto todos riam, D. Maria Mendonça, debruçada para elle, por traz do leque largamente aberto, murmurou:

— O Primo está com esses deprezos... Pois eu sei d’uma senhora que tem a maior admiração pela casa de Ramires e pelo seu representante.

Gonçalo enchia de novo o copo, com amor, attento á espuma:

— Bravo! Mas «convém distinguir», como diz o Manoel Duarte. Por quem tem ella a verdadeira admiração, por mim ou pelo Suevo, pelo Recesvinto?

— Por ambos.

— Diabo!