A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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— Acaba agora, prima!... Não olhe para mim assim espantada. Acaba agora... Pois se eu não caso!

Então D. Maria recuou o magro peito — como se esse casamento do primo dependesse de doces influencias, que convinha se trocassem bem chegadamente, sem Marias Mendonças de permeio no estreito banco com grandes mangas bufantes tolhendo as correntes de effluvio. E sorria, quasi languidamente:

— Ora não casa... Mas por quê, primo, por quê?

— Por que não tenho geito, prima. O casamento é uma arte muito delicada que necessita vocação, genio especial. As Fadas não me concederam esse genio. E se me dedicasse a semelhante obra, ai de mim! com certeza a estragava.

D. Anna, como se outra idéa a occupasse, puxára lentamente do cinto o relogio preso por uma fita de cabello. E D. Maria insistia, recusava os motivos do Fidalgo:

— São tolices. O primo que gosta tanto de creanças...

— Gosto, gosto muito de creancas, até de creancinhas de mama. As creanças são os unicos seres divinos que a nossa pobre humanidade conhece. Os outros anjos, os d’azas, nunca apparecem. Os santos, depois de santos, ficam na Bemaventurança a