s’espaçavam grossos vasos de louça branca com o brazão ramalhudo dos Sás. Certamente na véspera ou de manhã se lavára o tanque, por que na agoa muito transparente, sobre as lages muito claras, nadavam com redobrada vivacidade, em lampejos rosados, os peixes que Gonçalo assustou mergulhando e agitando a bengala. E d’aquella borda do tanque já elle avistava ao fundo de outra rua, debruada de dhalias abertas, o Mirante — uma construcção do seculo XVIII, simulando um Templosinho grego, côr de rosa desbotada, com um gordo Cupido sobre a cupula, e janellinhas de rocalha entre o meio relevo das columnas canelladas por onde trepavam jasmineiros.
Gonçalo arrancou, como costumava, folhas d’um ramo de lucia-lima, para esmagar e perfumar as mãos: e continuou para o Mirante, vagarosamente, por entre as dhalias apinhadas. Na allea, novamente ensaibrada, os sapatos finos de verniz que calçára pousavam sem rumor no saibro molle. E assim, n’um silencio de sombra indolente, se acercou do Mirante — e d’uma das janellinhas que, mal cerrada, conservava corrida por dentro a persiana de taboinhas verdes. Rente d’essa janella era a escada de pedra, que, do elevado e comprido terraço sobre que se estendia o jardim, communicava com a encovada rua das Tecedeiras, quasi em frente á Capella