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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

das Monicas. E Gonçalo, sem pressa, descia — quando, atravez da persiana rala, sentiu dentro do Mirante um susurro, um cochichar perturbado. Sorrindo, pensou que alguma das creadas da casa se refugiára n’esse Templosinho de Amor com um dos sargentos terriveis de Cavallaria... Mas, não! impossivel! Pois se, momentos antes, Gracinha roçára aquella janella e pisára aquella escada, no seu caminho para as Monicas! E então outra idéa o varou como uma espada — e tão dolorosa que recuou com terror da beira do Mirante d’onde ella perversamente o assaltára. Já porém uma desesperada curiosidade a agarrára, o empurrava — e collou a face á persiana com a cautella d’um espião. O Mirante recahira em silencio — Gonçalo temia que o trahissem as pancadas do seu coração... Santo Deus! De novo o murmurio recomeçára, mais apressado, mais turbado. Alguem supplicava, balbuciava: — «Não, não, que loucura!» — Alguem urgia, impaciente e ardente: — «Sim, meu amor! sim, meu amor!» E a ambos os reconheceu — tão claramente como se a persiana se erguesse e por ella entrasse toda a vasta claridade do jardim. Era Gracinha! Era o Cavalleiro!

Colhido por uma immensa vergonha, no atarantado pavor de que o surprehendessem junto do Mirante e da torpeza escondida — enfiou pela rua das