A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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triste... Gracinha, coitada, sem filhos, com tão mollengo e ensosso marido, alheia a todos os interesses da intelligencia, indolente mesmo para uma costura ou bordado — cedêra, que mulher não cederia? á credula e primitiva paixão que lhe brotára na alma, n’ella se enraizára, lhe déra as suas unicas alegrias do mundo e (influencia ainda mais poderosa!) lhe arrancára as suas unicas lagrimas! O Barrôlo, coitado, era o Bacôco — e como o «pilriteiro» da cantiga, incapaz de mais nobres fructos, só produzia os «pilritos» da sua Bacoquice. E elle, coitado d’elle, pobre, ignorado, irresistivelmente se rendera á fatal Lei d’Accrescentamento, que o levára, como a todos leva na ancia de fama e fortuna, a furar precipitadamente pela porta casual que se abre, sem reparar na estrumeira que atravanca os humbraes... Ah realmente todos bem pouco culpados deante de Deus que nos creou tão variaveis, tão frageis, tão dependentes de forças por nós ainda menos governadas do que o Vento ou do que o Sol!

Não, irremissivelmente culpado, — só o outro, o malandro da grenha ondeada! Esse, em toda a sua conducta com Gracinha, desde estudante, mostrára sempre um egoismo atrevido, só punivel como puniam os antigos Ramires, com a morte depois dos tormentos, e a carcassa posta aos corvos. Em quanto lhe agradou, na ociosidade dos longos estios, um namoro