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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

e penetra no valle, entre o cabeço d’Avellan e as ruinas do Mosteiro de Ribadaes, no solo historico onde Lopo de Bayão derrotára a mesnada de Lourenço Ramires... Ora enterrada entre vallados, ora entre toscos muros de pedra solta, a vereda seguia sem belleza, e cansativa: mas as madresilvas nas sebes, por entre as amoras maduras, rescendiam: o fresco silencio recebia mais frescura e graça dos fremitos d’aza que o roçavam; e tanto era o radiante azul nos ceus serenos que um pouco do seu rebrilho e serenidade s’instillava n’alma. Gonçalo, mais desannuviado, não se apressava: na Egreja dos Bravaes, quando elle passára ao Casal Novo, batiam apenas as nove horas: e depois de costear um lameiro d’herva magra parou a accender pachorrentamente um charuto, rente da velha ponte de pedra que galga o riacho das Donas. Quasi secca pela estiagem, a agoa escura mal corria, sob as folhas largas dos nenufares, por entre os juncaes que a atulhavam. Adiante, á orla d’um hervaçal, no abrigo d’uma moita d’alamos, relusiam as pedras d’um lavadouro. Na outra margem, dentro d’um velho bote encalhado, um rapazito, uma rapariguinha conversavam profundamente, com dous molhos d’alfazema esquecidos nos regaços. Gonçalo sorriu do idyllio — depois teve uma surpreza descobrindo, no cunhal da ponte, rudemente entalhado, o seu Brazão-d’Armas,