A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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o rapaz tropeçára n’uma viga solta. Mas já se endireitava, largava, quando o Fidalgo o alcançou com uma cutilada do chicote no pescoço, logo alagado de sangue. Estendendo as mãos incertas, ainda cambaleou, abateu, estalou contra a aresta d’um pilar, a cabeça mais sangue jorrou. Então Gonçalo, a arquejar, deteve a egoa. Ambos os homens jaziam immoveis! Santo Deus! Mortos? D’ambos corria o sangue sobre a terra secca. O Fidalgo da Torre sentia uma alegria brutal. Mas um grito espantado soou do lado do quinteiro.

— Ai que mataram o meu rapaz!

Era um velho que corria da cancella, n’uma carreira agachada, rente com a sebe, para a porta da casa. Tão certeiramente o Fidalgo arremessou a egoa, para o deter — que o velho esbarrou contra o peitoril que arfava coberto de suor e d’espuma. E ante o inquieto animal escarvando, e Gonçalo alçado nos estribos, com a face chammejante, o chicote a descer — o velho, n’um terror, desabou sobre os joelhos, gritou anciadamente:

— Ai, não me faça mal, meu Fidalgo, por alma de seu pae Ramires.

Gonçalo ainda o manteve assim um momento, supplicante, a tremer, sob o justiceiro faiscar dos seus olhos: — e gosava soberbamente aquellas callosas mãos que se erguiam para a sua misericordia,