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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

invocavam o nome de Ramires, de novo temido, repossuido do seu prestigio heroico. Depois, recuando a egoa:

— Esse malandro do rapazola desfechou a caçadeira!... Vossê tambem não tem boa cara! Que ia vossê correndo para casa? Buscar outra espingarda?

O velho alargou desesperadamente os braços, offerecia o peito, em testemunho da sua verdade:

— Oh meu Fidalgo, não tenho em casa nem um cajado!... Assim Deus me ajude e me salve o rapaz!

Mas Gonçalo desconfiava. Quando descesse agora pela estrada de Ramilde, bem poderia o velho correr ao casebre, agarrar outra caçadeira, desfechar traiçoeiramente. E então com a presteza d’espirito que a lucta afiára concebeu contra qualquer emboscada, um ardil seguro. E até n’um relance sorrio recordando «traças de guerra», de D. Garcia Viegas, o Sabedor.

— Marche lá deante de mim, sempre a direito, pela estrada!

O velho tardou, sem se erguer, aterrado. E batia com as grossas mãos nas coxas, n’uma ancia que o engasgava:

— Oh meu Fidalgo, oh meu fidalgo! mas deixar assim o rapaz sem acordo?...