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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

— É uma grande secca! A gente não póde confiar em ninguem... Nem ter familiaridades!...

N’um lampejo Gonçalo imaginou o Cavalleiro e Gracinha mostrando estouvadamente nos Cunhaes, como outr’ora entre os arvoredos da Torre, o sentimento que os dominava. E presentiu um desabafo, alguma queixa triste do pobre Barrôlo, amargurado por suspeitas, talvez por intimidades que espreitára. Mas a emoção suprema da sua batalha, sumira para uma sombra inferior os cuidados que, ainda na vespera, o opprimiam: todas as difficuldades da vida lhe appareciam agora, de repente, n’aquelle frescor da sua coragem nova, tão faceis d’abater como os desafios dos valentões; e não se assustou com as confidencias do cunhado, bem seguro d’impôr áquella alma submissa de bacôco a confiança e a quietação. Até sorriu, com indolencia:

— Então, Barrolinho? Succedeu alguma peripecia?

— Recebi uma carta.

— Ah!

Gravemente Barrôlo desabotoou o jaquetão, puxou do bolso interior uma larga carteira, de couro verde e lustroso, com monogramma d’ouro. E foi a carteira que elle mostrou a Gonçalo, com satisfação.

— Bonita, hein? Presente do André, coitado...