A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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Ella ria, lembrada dessas imaginações heroicas. E com o vestido entalado entre os joelhos recomeçou a lenta rega dos seus vasos — em quanto Gonçalo, encostado á varanda, considerando a Torre, retomado pela ideia d’uma concordancia mais intima, que desde essa manhã se estabelecera entre elle e aquelle heroico resto da Honra de Santa Ireneia, como se a sua força, tanto tempo quebrada, se soldasse emfim firmemente á força secular da sua raça.

— Oh Gonçalo! tu deves estar muito cançado! Depois d’essa verdadeira batalha...

— Não, cançado não... Mas com fome. Com fome, e com uma sêde explendida!

Ella pousou logo o regador, sacudindo as mãos alegremente:

— Pois o almoço não tarda!... Já andei a trabalhar na cosinha, com a Rosa, n’uma pescada á hespanhola... É uma receita nova do Barão das Marges.

— Então insonsa, como elle.

— Não! até picante: foi o Snr. Vigario Geral que lh’a ensinou.

E como, deante do toucador da Rainha Maria Francisca, ella arranjava á pressa os ganchos do cabello, para aproveitar a solidão favoravel, apressou com um esforço, a confidencia que o commovia:

— E em Oliveira? Lá por Oliveira!