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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

Porto, velho. Depois com a mão nas costas da cadeira murmurou gravemente: — Pensemos um momento em Deus, que me tirou hoje d’um grande perigo!

Barrôlo pendeu a cabeça, reverente. Gracinha, atravez d’um leve suspiro, pensou uma leve oração. E desdobravam os guardanapos; Gonçalo acclamava a travessa de pescada á hespanhola — quando o pequeno da Crispola empurrou ainda a porta envidraçada «com um telegramma, que viera da Villa!» Uma inquietação deteve os garfos. A manhã correra com tantas agitações e espantos! Mas já um sorriso de gosto, de triumpho, se espalhára na fina face de Gonçalo:

— Não é nada... É do Castanheiro, por causa dos capitulos do Romance que eu lhe mandei... Coitado! Bom rapaz!

E, recostado na cadeira, recitou vagarosamente o telegramma, que os seus olhos affagavam: — «Capitulos romance recebidos. Leitura feita amigos. Enthusiasmo! Verdadeira obra prima! Abraço!...»

Barrôlo, com a bocca cheia, bateu as palmas. E Gonçalo, sem reparar na travessa da pescada que Bento lhe apresentava, mas enchendo o copo de vinho verde, com uma vaga tremura, um sorriso ditoso que não se dissipava:

— Emfim, boa manhã... Grande manhã!