A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
39

voltou com um rolo de pergaminho, d’onde pendia, por fitas roidas, um sello de chumbo.

— Esse mesmo! exclamou o Fidalgo atirando o volume para o poial da janella. É esse mesmo que eu enrolei no pergaminho para se não quebrar. Desembrulha, deixa em cima da commoda... O Sr. Dr. Mattos aconselhou que o tomasse com agua tepida, em jejum. Parece que ferve. E limpa o sangue, desannuvia a cabeça... Pois eu muito necessitado ando de desannuviar a cabeça!... Toma tu tambem, Bento. E dize á Rosa que tome. Todos tomam agora, até o Papa!

Com cuidado, o Bento desenrolára o frasco, estendendo sobre o marmore da commoda o pergaminho duro, onde a lettra do seculo XVI se encarquilhava amarella e morta. E Gonçalo, abotoando o colarinho:

— Ora ahi está o que eu levo preciosamente para deslindar o fôro de Praga! Um pergaminho do tempo de D. Sebastião... E só percebo mesmo a data, mil quatrocentos... Não, mil quinhentos e setenta e sete. Nas vesperas da jornada d’Africa... Emfim! serviu para embrulhar o frasco.

O Bento, que escolhera no gavetão um collete branco, relanceou de lado o pergaminho veneravel:

— Naturalmente foi carta que El-rei D. Sebastião escreveu a algum avosinho do Sr. Doutor...

— Naturalmente, murmurava o Fidalgo, deante