A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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ao Bastardo se arredou: — e o forte corpo appareceu, nú e branco, sobre a terra negra, com um denso pello ruivo nos peitos, a sua virilidade afogada n’outra matta de pello ruivo, e todo ligado por cordas de canave que o inteiriçavam. N’aquella rigidez de fardo, nem as costellas arfavam — apenas os olhos refulgiam, ensanguentados, horrendamente esbugalhados pelo espanto e pelo furor. Alguns cavalleiros correram a mirar a aviltada nudez do homem famoso de Bayão. O senhor dos Paços d’Argelim mofou, com estrondo:

— Bem o sabia, por Deus! Corpo de manceba, sem costura de ferida!...

Leonel de Çamora raspou o sapato de ferro pelo hombro do malfadado:

— Vêde este Claro-Sol, tão claro, que se apaga agora, em agua tão negra!

O Bastardo cerrava duramente as palpebras, — d’onde duas grossas lagrimas escaparam, lentamente rolaram... Mas um agudo pregão resoou pela ribanceira:

— Justiça! Justiça!

Era o Adail de Santa Ireneia, que marchava, sacudia uma lança, atroava os cerros:

— Justiça! justiça que manda fazer o Senhor de Treixedo e de Santa Ireneia, n’um perro matador!...