A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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enormes, remexiam na orelha. Outra tapava um olho. O Claro-Solnão era mais que uma immundice que se decompunha. Só a madeixa dos cabellos louros, repuxada, presa na argola, relusia com um lampejo de chamma, como rastro deixado pela ardente alma que fugira.

Com a adaga ainda desembainhada, e que sacudia, o Coudel avançou para o Senhor de Santa Ireneia, bradou:

— Justiça está feita, que mandastes fazer no perro matador que morreu!

Então o velho Rico-Homem atirando o braço, o cabelludo punho, com possante ameaça, bradou, n’um rouco brado que rolou por penhascos e cerros:

— Morto está! E assim morra de morte infame quem traidoramente me affronte a mim e aos da minha raça!

Depois, cortando rigidamente pela encosta do cerro, atravez do matto, e com um largo aceno ao Alferes do Pendão:

— Affonso Gomes, mandae dar as bozinas. E a cavallo, se vos praz, Snr. D. Pedro de Castro, primo e amigo, que leal e bom me fostes!...

O Castellãoondeou risonhamente o guante:

— Por Santa Maria, primo e amigo! que gosto e honra os recebi de vós. A cavallo pois se vos praz! Que nos promette aqui o Snr. D. Garcia vêrmos ainda, com sol muito alto, os muros de Monte-mór.