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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

da comprida mesa allumiada por dois candieiros de petroleo, a ceia foi muito alegre, muito saboreada. Gonçalo, que se declarava miraculosamente curado pelo passeio até aos Bravaes e pelas emoções do voltarete em que ganhára desenove tostões ao Manoel Duarte — começou por uma pratada d’ovos com chouriço, devorou metade da tainha, devastou o seu «frango de doente», clareou o prato da salada de pepino, findou por um montão de ladrilhos de marmellada: e atravez d’este nobre trabalho, sem que a fina brancura da sua pelle se afogueasse, esvasiou uma caneca vidrada de Alvaralhão, porque logo ao primeiro trago, e com desgosto do Titó, amaldiçoára o vinho novo do Abbade. Á sobremesa appareceu o Videirinha, «o Videirinha do violão», tocador afamado de Villa Clara, ajudante da Pharmacia, e poeta com versos de amor e de patriotismo já impressos no Independente d’Oliveira. Jantára n’essa tarde, com o violão, em casa do commendador Barros, que celebrava o anniversario da sua commenda: e só acceitou um copo d’Alvaralhão, em que esmagou um ladrilho de marmellada «para adocicar a goella». Depois, á meia noite, Gonçalo obrigou o Gago a espertar o lume, ferver um café «muito forte, um café terrivel, Gago amigo! um café capaz de abrir talento no Sr. Commendador Barros!» Era essa a hora divina do violão e do «fadinho». E já o Videirinha