A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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recebia á porta os bilhetes. Sempre o mesmo Gonçalo! Parece que o conheceu ao chegar a Lourenço Marques, onde o homem tratava de se estabelecer como photographo. Mas já esquecia o melhor — o Bento! Não imaginas o Bento... Magnifico! Deixou crescer um bocado de suissa. É um modelo, vestido em Londres, de grande casaco de viagem de panno claro, até aos pés, luvas amarelladas, gravidade immensa. Gostou de me vêr na estação — perguntou logo, com o olho humido, pela Snr. aD. Graça, e pela Rosa. Á noite, o José e eu jantamos em familia, com o primo Gonçalo, no Bragança, para conversar da Torre e dos Cunhaes. Elle contou muitas cousas interessantes d’Africa. Traz notas para um livro, e parece que o praso prospera. N’estes poucos annos plantou dois mil coqueiros. Tem tambem muito cacau, muita borracha. Gallinhas são aos milhares. É verdade que uma gallinha gorda em Macheque vale um pataco. Que inveja! Aqui em Lisboa custa seis tostões, só com ossos — por que tendo tambem alguma carne no peito, salta para cá dez tostões, e agradece! No praso já se construiu uma grande casa, proximo do rio, com vinte janellas e pintada de azul. E o primo Gonçalo declara que já não vende o praso nem por oitenta contos. Para felicidade completa até achou um excellente administrador. Eu todavia duvido que elle volte para a Africa. Tenho agora cá a minha linda ideia sobre o futuro do primo Gonçalo. Talvez te rias. E não adivinhas... com effeito, eu mesma só n’essa noite em que jantamos no Bragança, recebi de repente a inspiração. O Rio-Manso está tambem no Bragança. Quando desciamos para o jantar, para um gabinete, encontramos no corredor o velho com a pequena. O homem tornou logo a abraçar Gonçalo, com uma ternura de pae. E a Rosinha tão vermelha se fez, que até Gonçalo, apesar de excitado e distrahido, notou e córou de leve. Parece que já ha entre elles um conhecimento antigo, por causa d’um cesto de rosas, e que, desde annos, o Destino os anda surrateiramente chegando. Ella é realmente uma belleza. E tão sympathica, tão bem educada!... Differença d’edade, apenas onze annos; e o dote tremendo. Fallam em quinhentos contos. Ha apenas a questão de sangue e o d’ella, coitadinha... Emfim, como se diz em heraldica, — « o Rei faz a pastora Rainha.» E os Ramires, não só vem dos Reis, mas os Reis vem dos Ramires. — E agora passando a assumpto menos interessante...»

Discretamente João Gouveia dobrou a carta, que entregou a Gracinha, louvando a Snr. aD. Maria Mendonça como um «reporter» precioso. Depois, com um cumprimento: