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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

Gonçalo virou, bruscamente despertado, procurando na algibeira, entre o dinheiro solto, a chavinha do trinco:

— Nem reparava... Que lindamente você tem tocado, Videirinha! Com lua, depois de ceia, não ha companheiro mais poetico... Realmente você é o derradeiro trovador portuguez!

Para o ajudante de Pharmacia, filho d’um padeiro d’Oliveira, a familiaridade d’aquelle tamanho Fidalgo, que lhe apertava a mão na botica deante do Pires boticario e em Oliveira deante das Auctoridades, constituia uma gloria, quasi uma coroação, e sempre nova, sempre deliciosa. Logo sensibilisado, feriu os bordões rijamente:

— Então, para acabar, lá vae a grande trova, Sr. Doutor!

Era a sua famosa cantiga, o Fado dos Ramires, rosario de heroicas Quadras celebrando as Lendas da Casa illustre — que elle desde mezes apurava e completava, ajudado na terna tarefa pelo saber do velho Padre Soeiro, capellão e archivista da Torre.

Gonçalo empurrou a portinha verde. No corredor espirrava uma lamparina mortiça, já sem azeite, junto ao castiçal de prata. E Videirinha, recuando ao meio da estrada, com um «dlindlon» ardente, fitára a Torre, que, por cima dos telhados da vasta casa, mergulhava as ameias, o negro miradoiro,