A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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III


Durante a longa semana, nas horas da calma, o Fidalgo da Torre trabalhou com afferro e proveito. E n’essa manhã, depois de repicar a sineta no corredor, duas vezes o Bento empurrára a porta da livraria, avisando o snr. Doutor «que o almocinho, assim á espera, certamente se estragava.» Mas de sobre a tira d’almaço Gonçalo rosnava «já vou!» — sem despegar a penna, que corria como quilha leve em agua mansa, na pressa amorosa de terminar, antes do almoço, o seu Capitulo I.

Ah! e que canceira lhe custára, durante esses dias, esse copioso Capitulo, tão difficil, com o immenso Castello de Santa Ireneia a erguer; e toda uma edade esfumada da Historia de Portugal a condensar em contornos robustos; e a mesnada dos Ramires a apetrechar, sem que faltasse uma ração nos