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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

alforges, ou uma garruncha nos caixotes, sobre o dorso das mulas! Mas felizmente, na vespera, já movera para fóra do Castello o troço de Lourenço Ramires, em soccorro de Monte-mór, com um vistoso coriscar de capellos e lanças em torno ao pendão tendido.

E agora, n’esse remate do Capitulo, era noite, e o sino de recolher tangera, e a almenára luzira na Torre albarran, e Tructesindo Ramires descera á sala terrea da Alcaçova para ceiar — quando fóra, deante da carcova, com tres toques fortes annunciando filho-d’algo, uma bozina apressada soou. E, sem que o villico tomasse permissão do Senhor, o alçapão da levadiça rangeu nas correntes de ferro, rebombou cavamente nos apoios de pedra. Quem assim chegava em dura pressa era Mendo Paes, amigo de Affonso II e mordomo da sua Curia, casado com a filha mais velha de Tructesindo, D. Theresa — aquella que, pelo ondeante e alvo pescoço, pelo pisar mais leve que um vôo, os Ramires chamavam a Garça Real. O Senhor de Santa Ireneia correra ao patim para acolher, n’um abraço, o genro amado — «membrudo cavalleiro, com os cabellos ruivos, a alvissima pelle da raça germanica dos visigodos...» E, de mãos enlaçadas, ambos penetraram n’essa sala de abobada, allumiada por tochas que toscos anneis de ferro seguravam, chumbados aos muros.

Ao meio pousava a massiça meza de carvalho,