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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

n’um grave e rouco tom, como o lançaria Tructesindo: — ...«de mal com o Reino e com o Rei, mas de bem com a honra e commigo!...» E sentia n’elle realmente toda a alma de um Ramires, como elles eram no seculo XII, de sublime lealdade, mais presos á sua palavra que um santo ao seu voto, e alegremente desbaratando, para a manter, bens, contentamento e vida!

O Bento, que espalhára outro repique desesperado, escancarou a porta da livraria:

— É o Pereira... Está lá em baixo no pateo o Pereira que quer fallar ao Sr. Doutor.

Gonçalo Mendes franziu a testa, com impaciencia, assim repuxado d’aquellas alturas onde respirava os nobres espiritos da sua raça:

— Que massada!... O Pereira... Que Pereira?

— O Pereira; o Manoel Pereira, da Riosa; o Pereira Brazileiro.

Era um lavrador, com casal na Riosa, chamado Brazileiropor ter herdado vinte contos de um tio, regatão no Pará. Comprára então terras, trazia arrendada a Cortiga, a fallada propriedade dos condes de Monte-Agra, envergava aos domingos uma sobrecasaca de panno fino, e dispunha de sessenta votos na Freguezia.

— Ah! Dize ao Pereira que suba, que conversamos emquanto almóço... E põe outro talher.