A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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A sala de jantar da Torre, que abria por trez portas envidraçadas para uma funda varanda alpendrada, conservava, do tempo do avô Damião, (o traductor de Valerius Flaccus) dous formosos pannos d’Arraz representando a Expedição dos Argonautas. Louças da India e do Japão, desirmanadas e preciosas, recheiavam um immenso armario de mogno. E sobre o marmore dos aparadores rebrilhavam os restos, ainda ricos, das pratas famosas dos Ramires que o Bento constantemente areava e polia com amor. Mas Gonçalo, sobretudo de verão, sempre almoçava e jantava na varanda luminosa e fresca, bem esteirada, revestida até meio-muro por finos azulejos do seculo XVIII, e offerecendo a um canto, para as preguiças do charuto, um profundo canapé de palhinha com almofadas de damasco.

Quando lá entrou, com os jornaes da manhã que não abrira, o Pereira esperava, encostado a um grosso guarda-sol de panninho escarlate, considerando pensativamente a quinta que, d’alli, se abrangia até aos álamos da ribeira do Coice e aos outeiros suaves de Valverde. Era um velho esgalgado e rijo, todo ossos, com um carão moreno, de olhos miudinhos e azulados, e uma barbicha rala, já branca, entre dous enormes collarinhos presos por botões de ouro. Homem de propriedade, acostumado á Cidade