Mentira nas instituições. Na administração mentira. Na tribuna e no telégrafo, e nos jornais, mentira, rementira e arquimentira.
Ai do que não aceitar a libré desta servidão ignóbil! Como esses terríveis esqualos, incisivos dessa múltipla dentadura, de que a natureza dotou aquela espécie carniceira. Desde o mexerico e a mentirola até os mais graúdos maranhões, as novelas mais desabaladas e as calúnias mais sanhudas, mais insolentes, mais negras, tudo se multiplicará, borbulhando em fervedouro deredor do infeliz, que não sabe acomodar-se ao sistema da embusteria, da intrujice e da burla consagradas. Convertem-lhe nos seus contrários as qualidades mais evidentes: o talento em estupidez, a honradez em improbidade, a pureza em devassidão. Inteligência? Será um burro. Ciência? Um analfabeto. Honestidade? Um ladrão. Cidadão, filho, marido, pai de família reconhecidamente exemplar? Um canalha. Um parricida. Um devasso. Um crapuloso.
Já se ao menos esse forjar da mentira ao sol em pino corresse por conta particular dos que lhe batem a moedagem, e a põem em giro. Já se o seu despejo se contentasse com desmentir o adágio de que moeda falsa de noite passa, com exercer à luz do dia o seu mister de falsários, com falsar à claridade meridiana pesos, medidas e moedas, com citar de falso, trucar de falso, argüir em falso, e testemunhar falso, não a meio rosto, mas cara a cara, entrando em desafio rasgado com a verdade notória e conhecida