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De que farei fundamento
pois em nada acho firmeza
e pago sempre em tristeza
os sonhos do pensamento?
Abrande esta dor crescida,
vivendo em pena da morte,
e eu por não mudar a sorte
não mouro nem tenho vido.

III
 
(Rimas ed. 1595 e Diogo Bernardes, Flores do Lima 1597 p. 170.)
 

Depois que meu cruel fado
destruiu uma esperança
em que me vi levantado,
no mal fiquei sem mudança
e do bem desesperado.
O coração que isto sente
à sua dor não resiste
porque vê mui claramente
que pois nasci para triste
já não posso ser contente.

Por isso, contentamentos,
fugi de quem vos despreza!
já fiz outros fundamentos,
já fiz senhora a tristeza
de todos os meus pensamentos.
O menos que lh'entreguei
foi esta cansada vida.
Cuido que nisso acertei
porque de quanto esperei
tenho a esperança perdida.

Gostos de mudanças cheios,
não me busqueis, não vos quero;
tenho-vos por tão alheios
que do bem que não espero
inda me ficam receios.
De vós desejo esconder-me
e de mim principalmente
onde ninguem possa ver-me;
que pois me ganho em perder-me
ando perdido entre a gente.

Acabar de me perder
fora já muito melhor:
tivera fim esta dor
que não podendo mór ser
cada vez a sinto mór.
Em tormento tão esquivo,
em pena tão sem medida
que moura ninguem duvida,
mas eu, se mouro, ou se vivo,
nem mouro nem tenho vida.

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