E AGORA, que sabemos dos estudos e passatempos da filha de D. Manoel? das artes que cultivou? dos lavores de sua mão? do viver no seu paço? do circulo de damas nobres e donzellas eruditas que constituiam a sua côrte e imitavam o seu exemplo? dos poetas e sabios, seus protegidos? das obras que lhe foram dedicadas ou de que foi inspiradora? dos institutos de educação que fomentou?
Mais alguma coisa, felizmente, do que da famigerada Escola de Sagres, embora as notas soltas que foi preciso colher em muitas e diversas obras, nem mesmo a este respeito elucidem quanto seria para desejar.
Os coevos pintaram a sua casa como domicilio das Musas e universidade feminina, já o deixei dito a principio d'este estudo. O biographo e os auctores feministas dos seculos XVI e XVIII forçam a nota, desenhando-a antes como um mosteiro reformado que podia a religiosas ser espelho e doutrina de bem-viver. Os modernos que se occupam de sciencias, artes e letras, seguem o exemplo do phantasioso polygrapho Manuel de Faria e Sousa, e consideram o seu pequeno reino litterario como verdadeira côrte de amor e gaia sciencia, comquanto, não podendo contradizer em absoluto os antecessores e para afugentar sombras, medos e horrores feministas, tambem ajuntem sempre, á cautela e com justo motivo, ao titulo de Academia da Infanta o subtitulo: escola de virtudes e honestidade.
Só estes fallam de Serões da Infanta, dando por provado que toda a pleiada camoniana se reunia constantemente em volta de D. Maria, no paço independente onde os monarcas a haviam instal-
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