Vid. Antologia VI, 144. — Os auctores portugueses formam em geral, ideia pouco adequada da terceira esposa de D. Manoel, interpretando como simpleza a candida bondade que a distinguia.
117 A Carta acha-se impressa na obra de Pacheco, Parte II Cap. 2.o, f. 88 v., e tambem na Hist. Gen., Provas II 741, N. 118. — O motivo porque a colloco entre 1535 e 1537 é que D. João III exigiu da propria filha que aos quinze annos fosse não só apta mas vezeira a fazer a sua correspondencia em latim, conforme indico no texto.
118 Esta segunda carta latina da Infanta tambem não é inteiramente desconhecida. O Visconde de Santarem, que possuia copia desde 1846, aproveitou-a no Quadro Elementar, vol. XV p. 86 (1854). Figanière, indicando o paradeiro, deu um extracto no seu Catalogo dos Manuscritos do Museu Britannico p. 123 (1853), noticiando ao mesmo tempo que fôra impressa numa collecção de cartas originaes, illustrativas da historia inglesa (Ellis, Original Letters illustrative of English History, vol. 11 da 2.a Serie a p. 247).
119 Como a obra inglesa, citada na Nota anterior, é pouco vulgar em Portugal, dou o treslado, directamente sobre o original, que faz parte de uma Miscellanea da Secção Cottoniana do Museu Britannico. (Cod. Vespasiano F. I f. 48.) A' sollicitude do incansavel bascologo e bascophilo E. Spencer Dodgson e aos bons serviços do photographo do Museu (E. Dosseter), devo uma excellente chapa em tamanho natural. A Carta consta de uma folha grande: 16 linhas no rosto e 6 no verso. Sem assignatura, que a epigraphe tornava desnecessaria, como em geral nas cartas latinas, está guarnecida de um sello em obreia com o escado da Infanta, bipartido, tendo as armas reaes de Portugal à esquerda, e o lado direito em branco. E diz:
«Maria Anglia Regina Sereniss: Maria Portugallia Infans Regis Emanuelis filia. S. P.
Cum primum de foelici rerum tuarum successu nuncius adlatus est, eam cepi animo voluptatem quã et ratio sanguinis postulabat et uero summi erga te amoris integritas exigebat. tum quod deus opti. Max. inter infelicium temporum concitatos motus illesam te, et uelut e mediis tempestatibus ereptaă ac seruatã, cui summam regni traderet, solam dignã esse judicauit: tum quod tali ac tam prudenti moderatrici populis tuis bene consultum esse voluit, et universo orbi christiano jucunditatem summā attulit qua in re incertum profecto nobis reliquit utrum tibi iure sanguinis, an potius clarissimarum virtutum (e, emendado para i) meritis, quibus inter huius temporis principes elluces, tam alta, et nobilis possesio (sic) debita sit: quã dum ego tibi cupio gratulari, quibus in tanto, et tam effuso meo gaudio verbis uti debeam, prorsus ignoro. Nec enim quisquam est (ut ex superioribus literis meis intelligere potuisti) quem magis laeserint (oe ligado, emendado para œ) aduerse tuæ res, nec cui magis ex animo cesserint prosperæ. Nam si mihi iucundissime literæ tuæ tam mirificam voluptatem olim attulerunt, ut eas, et in sinu gestare et manibus tenere et sæpius legere nunq[ua]m mihi fuerit satis; quata animum meum letitia oblato hoc summi gaudii argumento (o emendado), exhilaratum (u emendado) esse existimas, Quare te oratam uelim ut quãto maior ex hoc prospero tuarum rerum statu (estatu com e apagado) voluptas ad me peruenit, tanto crebriores literas quas avidissime expecto, de tua incolumitate in posterum ad me des. Interim a deo Opti.Ma: uotis omnibus contendam ut qui regni tui author extitit, idem tuam hanc felicitatem firmă et stabilem esse velit, ac te populis tuis in summa trãquillitate diu servet incolumem. Vale, Olyssippone 19 cal. octob. anno Dni 1553.»
P. S. — Como na imprensa faltassem algumas abreviaturas, tive que desdobrá-las.
120 Vid. Santarem, Quadro Elementar, vol. XV. O casamento de Felipe II com Maria Tudor realizou-se no anno immediato, a 25 de Julho.
121 Como viram, a Infanta refere-se na carta a outras missivas anteriores em que havia manifestado a sua afeição á pessoa e á causa da Rainha d'Inglaterra. — Quanto a esta soberana, parece que não lhe correspondia com affecto igual. Pelos extractos de Santarem, vemol-a agastada pelo desposorio de Felipe II com a Infanta, em razão do intimo parentesco dos nubentes. Mas isso não tolhe que as suas cartas fallassem a mesma linguagem superlativa, de urbanidade, usada entre todos os latinistas, coroados ou não coroados.
122 O mes de Outubro não tem 19 das calendas. A data deveria ser 18 Cal. Octob (14 de Sept.)
123 Figanière affirma ser toda do proprio punho da Infanta, sem indicar qual o autographo de que se serviu para fazer o confronto. — Até hoje os esforços de pessoas amigas, que amavelmente se offereceram a procurar na Torre do Tombo documentos com letra da Infanta, e tambem de Luisa Sigea e Joanna Vaz, não surtiram efeito. Averiguou-se apenas que entre as damas do paço ha duas, cuja calligraphia é muito parecida á da Carta da Infanta, e que a de Joanna Vaz era pessima. Eu, pela minha parte, posso affirmar que a de André de Resende era semilhante à da carta, a ponto de se poderem confundir. A da Rainha D. Catharina e tambem a de D. Leonor era difficillima de entender; a do Principe D. João, pelo contrario, era bella como a da Infanta e igual quasi á de seu mestre, Manoel Barata. (Vid. Faria e Sousa, Rimas de Camões vol. 1, 298). — A este respeito vejam-se as observações de Castilho no seu opulento estudo sobre Lisboa, vol. VII p. 414.
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