(Vide Nota 127); um Abecedario em grego, datado de 1540; oito exemplares da Arte de Lebrija, comprados em 1541.
108 A scisão na alma e nos actos de D. João II começou cedo. Temos em 1536 a Bulla da Inquisição; em 1539 seu irmão, o Cardeal-Infante foi transformado em Inquisidor-Mór; em 1540 instaurou o primeiro Auto-da-Fé; a Companhia de Jesus veio no anno immediato; em 1542 a primeira procissão de penitencia inicia a era do zelotismo; em 1545 temos a iniqua revogação de Damião de Goes, sob pretexto de o nomearem mestre de letras do principe real, mas na verdade para o incriminarem como heterodoxo; em 1547 a Bulla da carne humana; em 1551 a abertura do Collegio dos Jesuitas em Evora; em 1555 a entrega da Universidade e todos os collegios á mesma ordem; em 1564 o Indice dos Livros Prohibidos. Lembrarei ainda no campo estrictamente politico o abandono de Safim e Azamor (1542); o de Arzilla e Alcacer (1549). — Outra ordem de acontecimentos de familia enlutava os reinantes e a nação: o fallecimento successivo de seis filhos de D. Manoel e oito de D. João III, a ponto de uma dynastia florescente ficar reduzida em 1557 a tres representantes: uma creança desequilibrada; um cardeal, senil antes do tempo; uma infanta innupta.
109 Na Nobreza Litteraria de F. A. Martins Bastos (Lisboa 1854), ha apontamentos a este respeito, nem sempre colhidos nas melhores fontes.
110 Wilhelm Storck, depois de ter vertido para allemão todas as obras de Camões, escreveu um estudo importantissimo, d'inquirição critica sobre a vida do poeta, a qual tentei nacionalizar: Vida e Obras de Luiz de Camões (Lisboa 1899).
111 Poesias de Sá de Miranda N.° 105. Essa carta a João Rodrigues de Sá e Menezes, um hymno ás letras humanas e divinas, está repleta de aphorismos agudos e de censuras á rudeza dos costumes antigos, ainda não extinctos, segundo os quaes
sangue e bens de fortuna
é tudo entre os portugueres.
112 A respeito da Mulher da Renascença consulte-se a obra classica de Jacob Burckhardt Die Cultur der Renaissance in Italien, 3. ed., Leipzig 1878. Na Peninsula não só as damas do mundo mas tambem as freiras liam enthusiasmadas, na sua clausura, ás escondidas, alguns Colloquios de Erasmo, de que 24:000 exemplares corriam de um extremo ao outro da Europa. Citemos o tratado Da Donsella que aborrece o Matrimonio (Misogamos), Da Virgem arrependida (sc. de ter professado) e o Da Mulher erudita. — Na Historia dos Heterodoxos, de Menendez y Pelayo, ha alguns esclarecimentos (vol. 1).
113 As mais nomeadas entre as fidalgas doutas que então brilharam na corte hespanhola eram filhas do duque de Tendilla (D. Mecia de Mendoza, marqueza de Zenete, e a Condessa de Monteagudo, D. Margarida Pacheco), e tres irmans de D. Juan de Zuñiga (D. Isabel, Duqueza de Alba, D. Elvira de Sotomayor e D. Maria de Estuñiga).
114 D. Francisca (ou Antonia) de Nebrixa, filha do grande reformador dos estudos, professava em Salamanca sobre rhetorica e poetica, em substituição do pae. D. Lucia de Medrano explanava textos latinos, segundo consta por relação de Lucio Marineo Siculo. Isabel de Vergara, irmandos famosos erasmistas Juan e Francisco, traduziu para romance alguns dos escritos do grande vulto de Rotterdam. — Juana de Contreras, a Sepulveda, linda doncella muy sabedora, e Anna de Cervaton lograram nomeada entre latinistas e hellenistas.
115 Essa comedia, intitulada Hispaniola, conta, segundo dizem os poucos que a leram, não sem graça, mas antes com pilheria plautina e facundia terenciana, varios casos e successos festivos de dois amantes. O auctor, chamado Juan Maldonado, veio a ser mais tarde um dos mais notaveis humanistas hespanhoes, da observancia erasmista. A obra, composta quando contava vinte e cinco annos, e divulgada contra sua vontade (prodiit lucem, nolente me) foi sumptuosamente enscenada e representada em presença da Rainha D. Leonor e todos os proceres da côrte: et apud Helionoram Gallia reginam qua tunc erat Portugallia non levi sumpta acta, spectante procerum caterva summoque senatu. Assim o conta o proprio Maldonado na impressão de 1535, queixando-se de que outra sahira subrepticiamente em Valladolid (1525). Vid. Gallardo, Ensaio s. v. Maldonado, vol, II, col. 605; Nicolas Antonio, Bibl. Nova I 557: Menendez y Pelayo, Antologia v 194 e Heterodoxos II 74.
116 Sirvam de exemplo uma obra astrologica de Frei Antonio de Beja Contra os Juisos dos Astrologos 1523; uns versos latinos de Antonio de Gouveia, o qual foi, como todos sabem, um dos principaes intermediarios entre a cultura francesa e a portuguesa e talvez o primeiro que tornou conhecidas em Portugal as poesias de Clement Marot (Vid. Antonii Goveani Epigrammata Brusderm Epistola quatuor, Lugduni 1540), e uma composição hespanhola de Francisco de Guzman. Bem intencionado e incansavel cultor da poesia ethica, sentenciosa e paremiologica, este capitão dedicou á Rainha uma Glosa sobre as Coplas de Jorge Manrique, o famoso Recuerde el alma dormida, que é a que maior numero de edições obteve (1. em Lyon de França em 4. got. s. a., ed. post. de 1558 e 1598). O nome do auctor infere-se de umas coplas acrosticas de arte maior que precedem a obra.84