as aneurismas, tremendo á leitura do obituario da semana, folheando livros de medicina, construindo theorias physiologicas, consultando todos os medicos da capital, experimentando todo o arsenal pharmaceutico e todos os annuncios, em parangona, da quarta pagina dos periodicos, e elevando as crenças do seu espirito amedrontado até ás mysteriosas e nevoentas alturas do credo homoepathico! Ao mesmo tempo manifestou-se n’elle uma progressiva degeneração de gôsto; não podia ler uma pagina dos livros que lhe eram predilectos; desfazia-se sem desgôsto de quadros, móveis, estatuas e objectos curiosos que colleccionára com paixão; detestava a musica, o theatro, n’uma palavra, tornára-se um dos maiores flagellos, que podem pesar sobre a humanidade e que muito em especial causam o supplicio dos medicos que os aturam.
Foram estes os que, em parte de boa fé, em parte com o desculpavel intuito de sacudirem de si tal pesadelo, lhe deram um dia de conselho, que fôsse viajar.
Henrique de Souzellas julgou ouvir uma heresia n’esta palavra: viajar.
Viajar? E as suas aneurismas? E as suas imminencias apopleticas? E as suas disposições para tantas outras enfermidades? Pois um homem pode lá viajar com esta bagagem pathologica?
E se lhe désse alguma coisa pelo caminho? Recusou com mau humor a receita, e ficou na capital.
Exacerbaram-se os padecimentos, repetiram-se as consultas, e os medicos, como se para isso apostados, a insistirem em que saisse de Lisboa.
― O senhor não tem nada ― diziam alguns.
Henrique perdia a cabeça, ao ouvir isto.
Prolongou-se este estado de coisas, até que um dia o hypocondriaco rapaz persuadiu-se muito sériamente de que estava chegada a sua hora extrema.
Um medico velho e grave, que por essa occasião