129

metter n’este desterro... Porque isto é um desterro. Sim, deve concordar que não é natural. Mas se a gente se lembrar de que a morgadinha, et coetera... O senhor bem me percebe... Todos, hoje em dia, sabem o preço ao dinheiro, meu amigo.

A verbosidade do mestre Pertunhas estava evidentemente incommodando Augusto, que não redarguia.

— Nada, nada; alli anda plano, com certeza. Pelos modos, já depois de ámanhã vae o rapaz acompanhar as pequenas á ermida da Saude. Ah!... mas agora me lembro! o senhor é tambem da sucia.

— Eu?!

— Com certeza. Disse-m’o o Damião, que tem ordem das pequenas para o convidar. Se ainda não recebeu o recado, ha de recebel-o. Em todo o caso, observe-o e verá se eu tenho razão.

— Vou jantar, sr. Pertunhas, que já ha muito para isso me chamou a criada — disse Augusto, erguendo-se como para fugir áquella conversa. — Em seguida irei aos seus rapazes.

— Então vá, vá. Deus lhe pague o favor que me faz e permitta que eu lhe não peça muitos d’estes. E eu tenho esperanças... Sabe que ando com ideias de arranjar o lugar de recebedor, que está, como diz o outro, a encher dias? Já falei ao conselheiro; mas o conselheiro promette muito e falta melhor, sobretudo a um homem que não tenha influencia em eleições. O sr. Joãozinho das Perdizes interessa-se por mim, é verdade; mas, por outro lado, o Seabra brazileiro faz-me guerra. Eu ando a vêr se consigo pôr o Seabra a meu favor, porque emfim... Mas vá, vá jantar, que eu espero.

— Se quizer fazer-me companhia...

— Muito obrigado. Eu já jantei. O meio dia é a minha hora. Jante á sua vontade.

Augusto saiu da sala. Mestre Bento Pertunhas, ficando só, deu algumas voltas cantarolando, sentou-se