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— Então que boa fortuna o traz por aqui, sr. Pertunhas? — perguntou elle.

— Ai, é verdade; eu lhe digo ao que venho. É para lhe pedir um favor, meu caro sr. Augusto. Eu bem sei que é abusar da sua bondade... Quousque tandem, Catilina... Mas, é por esta vez...

— Já sei; quer que lhe vá dar lição aos rapazes.

— Ah! grande maganão, que adivinhou — exclamou o mestre, abraçando Augusto com effusão. — É isso mesmo, se lhe não custasse...

— Irei.

— É que... eu lhe digo, eu tinha hoje de ir ao ensaio da philarmonica... Percebe o senhor? Os Reis estão ahi á porta e as outras festas do Natal, e não ha tempo a perder... Percebe? E eu tenho ainda umas peças do Trovador para ensinar á minha gente. São muito bonitas... Poh! poh! poh! E então este anno, que pelos modos temos cá o conselheiro e mais o pequeno... Não contando com esse sujeito que ahi chegou a Alvapenha. Chama-se Henrique de Souzellas, é sobrinho da velha, da D. Dorothéa, e julgo que ainda aparentado no Mosteiro. Lá chamam-lhe primo. Esteve lá esta manhã um par de horas, logo que saiu da minha repartição. Dizem-me que é filhote de Lisboa, solteiro, rico e sem modo de vida. Rico e sem modo de vida! Que lhe parece, hein? Olhe que sempre ha gente muito feliz! Aqui para nós, sabe ao que me cheira a visita d’este senhor? Aquillo é mosca que vem ao cheiro do mel. Que diz, hein? Ninguem me tira d’isto. Pois não lhe parece, hein?

— Não sei bem o que quer dizer com a imagem — respondeu Augusto, levemente enfadado. — Além de que não posso adivinhar as intenções de um homem que pela primeira vez encontrei esta manhã.

— Pois está claro que não; nem eu; mas emfim uma pessoa logo tira pelo que vê... Ora pois diga, um rapaz de Lisboa, afeito a divertimentos, a boa musica, et coetera, andar leguas e leguas para se