o serão animou-se de novo, fragmentando-se porém a conversação.
D. Victoria tomou á sua parte D. Dorothéa e passou a fazer-lhe amargas queixas a respeito dos criados do Mosteiro, ao que D. Dorothéa acudiu com conselhos de resignação christã.
Angelo conversava com Magdalena e Christina, a quem frequentemente fazia rir.
Henrique e o conselheiro, proximos do fogão, estavam empenhados n’um dialogo muito animado.
O conselheiro parecia estar falando com muita sinceridade e candura que surprehendiam Henrique, que ainda o não tinha observado por esta face.
— É uma triste verdade — dizia por exemplo o conselheiro n’um ponto adeantado da conversa, referindo-se a algumas considerações de Henrique sobre a felicidade d’aquella vida do Mosteiro. — Tenho esta familia que vê; todos me querem sinceramente aqui, e não sei resistir á fatal necessidade que me arranca de todos estes braços para me lançar ao turbilhão da politica e d’isso que se chama o mundo! Pois amo devéras a minha Lena, creia.
— É um dever que cumpre. N’estes tempos de má fé politica, quem se sente com a coragem de se votar, corpo e alma, á defeza despreoccupada dos bons principios...
Nos labios do pae de Magdalena passou um ligeiro sorriso, meio de descrença, meio de melancolia.
— Defeza despreoccupada? Isso é quando Deus quer — respondeu elle. — Olhe, Henrique, visto que me veio encontrar em minha casa, a cuja porta eu deixo, ao entrar, todas as mascaras e artificios, de que uso no mundo, vae vêr em mim o homem que talvez não esperasse e que, já lhe digo, debalde procurará reconhecer um dia, se me observar outra vez em Lisboa. O que lhe vou dizer não lh’o diria, nem lh’o repetirei lá. É verdade que estes ares do campo tambem actuarão em si para me apreciar e