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tomar á boa parte a franqueza. Lá não acreditaria n’ella; se por acaso não a aproveitasse como arma politica contra mim...

— Pois julga?...

— Peço perdão, se o offendi com isto. Não eraesse o meu intento, mas é pratica tão geral!... Se um dia fôr politico, o que lhe não desejo, dir-me-ha.

Dizendo isto, fez uma curta pausa na conversação.

Rompendo de novo o silencio, o conselheiro proseguiu:

— Mas falava ahi de principios, que se defendem com desassombro e através de tudo. Não sei se quiz ser lisonjeiro e disse o que não sentia, ou mais do que o que sentia. Em todo o caso, eu, aqui no Mosteiro, acho-me muito ás ordens da minha consciencia, a qual não me deixa calar hypocritamente. Estou muito longe de ser esse ideal do homem politico, a que alludiu. Humildemente o confesso; até porque, se quizesse sel-o, arriscar-me-hia a achar-me só, não teria partido. Porque, qual é o que vê nas condições de constancia de opiniões que disse? Tenho crenças politicas, é verdade; espóso no coração certos principios que quizera vêr realisados, mas não combato por elles a todo o transe, nem por elles affrontaria o supplicio; antes, por vezes, entro em transacções, que são a completa negação da divisa da minha bandeira. E este peccado não sou eu só que o commetto; é um peccado venial da nossa época. As grandes ideias, que definem e estremam os campos na politica, havemol-as eu e os mais calcado muitas vezes aos pés, para sustentar umas insignificantes fórmulas, um interesse mesquinho, um capricho pessoal. A politica desce muitas vezes a isto. E ninguem é isento de culpa n’este mal. Para elle concorrem os mesmos que de fóra nos julgam severamente. Ha muitos d’estes peccados na minha carreira publica. E, quer que lhe diga, sabe quando vejo claro n’elles? quando me