maiores e mais geraes interesses e operar sacrificios mais custosos. É muito tocante na verdade o amor de um velho pelas suas arvores e pela sua casa; porém, mais respeitavel é o bem-estar e a conveniencia de uma localidade.
— E é tão necessario para a felicidade d’esta terra o sacrificio a que se quer obrigar o herbanario? — perguntou Angelo, e Magdalena secundou com o olhar a pergunta do irmão.
— Eu te digo, Angelo — respondeu o conselheiro, levemente despeitado. — Eu tinha a vaidade de me suppôr ainda prestavel para esta gente, que me tem elegido tantas vezes. Dos nossos patricios, deixem-me dizel-o aqui em familia, não vejo ainda quem dê garantias de desempenhar o mandato, muito melhor do que eu. Chamasse eu contra mim a animadversão d’este povo, e elles, á falta de outros, acceitariam ámanhã qualquer nome inscripto na carteira do ministro; um homem que nunca tivessem visto, e que nem soubesse em que ponto da carta estava o circulo de que se propunha ser representante. Mas perdôa-me, Lena, talvez isto te esteja parecendo um censuravel excesso de vaidade.
— Não, meu pae, ninguem acredita mais do que eu no muito valor da sua influencia, mas... Ó meu Deus!... isso vae ser a morte do pobre tio Vicente! Imagine bem o que é n’aquellas idades e com aquelle genio, a grandeza do sacrificio que vão exigir d’elle?
— Custa-me ser obrigado a isso; porém...
— Valia mais esperar algum tempo. A vida d’elle não pode ser muito longa. Deixem-o morrer em paz, á sombra d’aquellas arvores a que elle quer tanto. Que importa passar mais alguns annos sem uma estrada?
— Poesia! — disse o conselheiro, sorrindo para Henrique, que lhe correspondeu.
— Perdão! — acudiu Magdalena, córando — é caridade.